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Belém

Feira do Som: A valentia do psicodélico

TEXTO: EDGAR AUGUSTO

Toda vez que me encontro com o amigo Antonio Maria, conhecido nos meios artísticos e poéticos da cidade como “Corisco”, rio muito ao relembrar nossa juventude vivida numa Belém, outrora, bem mais calma que esta de agora. Estudamos juntos em 1969 no Curso Clássico do Colégio Moderno da Quintino com a Braz de Aguiar numa turma que tinha mais meninas do que rapazes. Daí que a “macharada”, formada por gente bem humorada e bandalha, geralmente sentava na fileira de carteiras do fundo da sala.

Nós, ainda assim, nos dávamos bem com as garotas. Algumas, inclusive, tomavam parte das bandalheiras, principalmente na hora do recreio. Mas tínhamos nossas regras próprias. O “Corisco” (famoso de hoje) era o “Padre”. A turma cismava que só faltava uma batina para que ele posasse igual a um sacerdote da igreja católica. Sacanagem…

Lembro também do Edvaldo, o “Parpa Diablo de Las Pombas”, do atlético Antonio Braga (ele continua atlético), do Antonio Saad Sobrinho, que apelidamos de “Quininha” e que, bem jovem, já era frequentador da então “proibida para menores” Pagode Chinês, uma linda boate decorada com motivos orientais.

Havia, idem, o Potiguar, o “Fariseu”, o Sobral, o Geraldo, o Roberto Simões de Alenquer, este conhecido como “Psicodélico”, e o “Picolé” (Augusto Rezende, mais tarde Prefeito de Belém).

O Moderno se postava disciplinarmente rígido, com salas de orientação para os alunos mais rebeldes e punia desobedientes com sermões educativos e até suspensões. Nada, contudo, que nos tirasse o permanente sorriso dos lábios. Gostávamos dos sarros e brincadeiras. Às vezes, confesso, até com alguns abusos.

Não sei dos outros, mas eu e o Roberto procedíamos do Colégio Pátria e Cultura (que ficava na avenida Nazaré quase em frente a Codem, onde funcionou o colégio Alfredo Chaves). O “Pátria” dispunha de poucas estrelas nos meios estudantis. Chamavam-no, inclusive, de “Pronto Socorro” (nem, rigorosamente, o era. Tinha ótimos professores), mas o fato é que sua fama deixava a desejar.

“Certa aula de inglês, com uma mestra norte-americana que falava baixo e fino, os “meninos” da fileira de carteiras do fundo da sala sentaram rente à parede com semblantes sérios e portando gravatas hippies, feitas de papel colorido.”

 

Certa aula de inglês, com uma mestra norte-americana que falava baixo e fino, os “meninos” da fileira de carteiras do fundo da sala sentaram rente à parede com semblantes sérios e portando gravatas hippies, feitas de papel colorido. Incomodada com a cena, a teacher se retirou da aula e foi direto se queixar para o austero diretor Clodomir Colino. Não demorou nem cinco minutos pr’ele chegar, com seu terno preto e voz grave: “com certeza os alunos mal-educados que afrontaram a professora usando gravatas estranhas ao uniforme não entendem o que é o Moderno. Querem ver?”, desafiou.

Aí saiu perguntando aos homens: “você veio de que colégio?” A maioria foi respondendo, “Modelo”, “Herbert”, “Abraão Levy”. Eu, medroso, disse “Nazaré”. O sincerão foi só o “Psicodélico”.

Falando quase com a alma na garganta, disparou em tom lotado de orgulho: “Pátria e Culturaaaa!!!!” Todos riram, até o sisudo Clodomir. Até hoje relembro o caso e me arrependo da covardia de não ter acompanhado o Roberto. Devia ter tido a coragem dele. Mas, será que teria valido a pena? Nossa gracinha psicodélica, afinal, rendeu três dias de suspensão para cada um. Valentias e covardias à parte.

 

CRÍTICA

Capa do novo álbum de Wanderléa dedicado ao chorinho FOTO: DIVULGAÇÃO

Wanderléa, a ternurinha no choro

Wanderléa nunca foi uma Elis Regina ou uma Mônica Salmaso, cantoras tecnicamente irrepreensíveis. Afinal, não era preciso tanto refinamento no repertorio da jovem guarda dos anos 1960. Mas ela se postava afinada, meiga e graciosa naquele cancioneiro inocente e simples. E marcou sua passagem definitivamente no gênero. Era a “ternurinha”, que posteriormente não seria muito feliz ao tentar parcerias com o sofisticado Egberto Gismonti, mas que agora, aos 79 anos, resolveu gravar um curioso disco de chorinhos sob produção de Hamilton de Holanda, simplesmente o melhor bandolinista do País. Gravado em 2021, com direções de Mário Gil e Luiz Nogueira, o CD passeia por “Uva de Caminhão” (Assis Valente), revisita Admilde Fonseca (“O que vier eu traço”) e homenageia Waldir Azevedo (“Delicado”, “Brasileirinho” e “Pedacinhos do Céu”). Também traz “Um Choro para Wanderléa” (Douglas Germano & João Poleto), feito exclusivamente para ela. Wandeca dá um recado correto e de certa forma surpreendente por manter intacta a forma de cantar sem rodeios audaciosos Procurem dar uma conferida.

Novo álbum de Wanderléa teve produção de Hamilton de Holanda, o maior bandolinista do País, FOTO: CARLOS BARLETTA/DIVULGAÇÃO

NOTAS

Quinta-feira, a antessala do final de semana, o dia em que a gente já toma a primeira…

ESCULTURA DA FEIRA DO SOM

O cincoentenário da “Feira do Som” acabou gerando um belíssimo trabalho de autoria do artista plástico Paulo Emilio Campos. Foi uma caricatura nossa em papietagem, com direito a chapéu, óculos, rabo-de-cavalo e até colete sobre uma camisa com o nome “The Beatles”. Ficamos empolgados e agradecidos, até porque o Paulo nos presenteou gentilmente com a obra.

UM SHOW PARA SIMONE ALMEIDA

Lamentável, mas nossa grande Simone Almeida vem sofrendo de depressão, está sem trabalhar e precisa de auxílio. Ocorrerá um show solidário para ela, dia 23, terça-feira, no Teatro Estação Gasômetro, no Parque da Residência, organizado pela jornalista Clara Costa juntamente com o cantor Mario Mousinho e a atriz Yeyé Porto.

NOMES CONFIRMADOS

Já estão confirmados os nomes de Nilson Chaves, Gigi Furtado, Mariza Black, Arthur Espíndola, Junior Soares e Mahrco Monteiro. Joao Bererê (bateria), Neyzinho Rocha (baixo), Jacinto Kahwage (piano), Davi Amorim (guitarra) e Paturi (percussão) formarão a banda base.

Quinta-feira, a antessala… Divirtam-se!

Redação
Redação
O Diário do Pará é um jornal fundado pelo jornalista Laércio Wilson Barbalho, impresso diariamente em Belém desde 1982, pertencente ao Grupo RBA.

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